Você já viu um lago completamente rosa? Parece montagem, mas é real. O Lago Hillier, localizado na região de Goldfields-Esperance, na Austrália Ocidental, tem uma coloração naturalmente rosa choque. Por anos, esse fenômeno desconcertou especialistas. Agora, com o uso de tecnologia de ponta, a ciência revelou o que dá essa cor tão incomum à água. Imagine sobrevoar uma ilha remota e se deparar com um lago cor-de-rosa vibrante em meio à vegetação. Essa é a visão surreal proporcionada pelo Lago Hillier, localizado na Ilha do Meio (Middle Island), no arquipélago de Recherche, região de Goldfields-Esperance, Austrália Ocidental. Por muito tempo, essa coloração exótica gerou especulações. Agora, a ciência finalmente tem uma resposta clara — e fascinante.
Técnica de ponta desvenda o enigma da cor
Com o avanço das tecnologias de sequenciamento de DNA, cientistas da Universidade de Vermont e da empresa australiana Microba, especializada em genômica microbiana, conseguiram decifrar os motivos por trás da cor incomum do lago.
Utilizando a técnica de metagenômica, que permite identificar todos os micro-organismos presentes em uma amostra ambiental, os pesquisadores analisaram tanto a água quanto os sedimentos do lago. O resultado surpreendeu até os cientistas: 498 espécies diferentes de extremófilos — organismos que vivem em ambientes extremos — foram identificadas.
O papel das algas e bactérias coloridas
Entre os extremófilos mais abundantes estavam 249 espécies de halófilos (que prosperam em ambientes extremamente salgados) e 175 termófilos (adaptados ao calor). Dois micro-organismos chamaram atenção:
- A bactéria Salinibacter ruber, que tem coloração avermelhada-alaranjada;
- A alga Dunaliella salina, rica em pigmentos carotenoides (vermelhos e alaranjados).
Esses pigmentos, especialmente o beta-caroteno, são responsáveis pela tonalidade rosada do lago. Eles funcionam como um escudo natural, protegendo os micro-organismos das condições extremas de salinidade — que no Hillier são cerca de oito vezes maiores que as do oceano.
Novas espécies e biodiversidade única
O estudo revelou ainda que alguns dos micro-organismos encontrados podem ser novos para a ciência. Eles ainda não foram completamente caracterizados, mas indicam uma biodiversidade impressionante no ecossistema do lago.
“Essa variedade microbiana é o que torna a cor do Lago Hillier tão única. A combinação desses microrganismos e seus pigmentos forma um verdadeiro mosaico biológico, que pinta o lago de rosa de maneira natural e permanente”, explicou o cientista Scott Tighe à revista New Scientist.
Rosa não é exclusividade do Hillier
Embora o Lago Hillier seja o exemplo mais famoso, a Austrália abriga outros lagos rosa, como:
Hutt Lagoon
Pink Lake
Field of Pink Lakes
Quairading Pink Lake
Além disso, corpos d’água com tonalidade rosada também podem ser encontrados na Bolívia, México, Senegal, Azerbaijão, Canadá, Espanha e Estados Unidos. A coloração pode variar de acordo com o clima, salinidade e concentração de algas pigmentadas.
Fenômenos temporários também chamam atenção
Recentemente, moradores de Brisbane, na Austrália, ficaram surpresos ao ver as águas de um pântano local — o Boondall Wetlands — completamente rosas ao amanhecer. Apesar da semelhança, trata-se de um fenômeno temporário, causado pela proliferação da alga Dunaliella salina em períodos de calor intenso e baixa pluviosidade.
Segundo a bióloga Michele Burford, da Universidade Griffith, o vento e a maré concentram as algas em áreas específicas, o que intensifica a coloração. Com o tempo, o fenômeno desaparece, ao contrário do que ocorre no Hillier, cuja coloração é permanente.
Um espetáculo raro, mas natural
O Lago Hillier é a prova de que a natureza ainda guarda segredos surpreendentes. A ciência mostrou que o rosa do lago não é mágica nem química artificial, mas sim resultado da vida microscópica que se adapta de forma extraordinária a ambientes extremos.
Para quem deseja visitar, o lago só pode ser visto por voos panorâmicos autorizados, já que a área é protegida. Mas mesmo à distância, sua cor impressionante continua encantando cientistas, fotógrafos e curiosos do mundo todo.
