Lançado oficialmente no dia 19 de julho, o livro “Claraíba – Nova Trento: 150 anos da Grande Imigração Italiana, da Igreja de São José do Dezesseis e criação do Distrito de Claraíba”, de autoria do padre Flávio Feler, é mais um importante marco no resgate da história e da cultura das comunidades do Vale do Rio Tijucas. A obra faz parte das comemorações pelos 150 anos da chegada dos imigrantes italianos a Santa Catarina, iniciada em 1875.
Natural de Canelinha, o autor conta que tem vínculos pessoais com a região: é filho de famílias tradicionais da imigração — os Feller, trentinos de Besenelo, e os Fumagalli, lombardos do Indaiá — e desde pequeno frequentava Claraíba e região.
Vigário paroquial em Nova Trento há mais de cinco anos, Feler desenvolve uma ampla pesquisa sobre as 31 comunidades que compõem a paróquia São Virgílio. Este é seu segundo livro no projeto, após o lançamento de uma obra sobre o Morro da Cruz e o Santuário do Bom Socorro.
Claraíba: de “Kilômetro 16” a distrito com identidade própria
No livro, padre Flávio narra o processo de formação do atual distrito de Claraíba, que no passado era conhecido como “16” por estar a 16 quilômetros da sede de Brusque. A obra recupera o caminho percorrido pelos primeiros imigrantes italianos, que chegaram ao Brasil em junho de 1875 e se instalaram na região após passarem por barracões em Brusque e abrirem caminho por trilhas até o local onde hoje está Claraíba.
A primeira leva de 20 famílias se fixou ali, dando início à formação das comunidades de Tirol, Indaiá, Lombardia, Morro da Onça e outras localidades próximas.
A pesquisa revela também a presença de imigrantes alemães e poloneses — cerca de 35 famílias — que se estabeleceram entre Claraíba e Nova Trento, inclusive com a fundação de uma igreja luterana, cuja história também é abordada na obra.
Um capítulo especial é dedicado à igreja de São José, onde a própria Santa Paulina fez sua primeira comunhão, e ao papel dos jesuítas, que deixaram registros fundamentais para a preservação da memória local, como o Livro Tombo e a Crônica da Casa.
Um distrito que se transformou com o tempo
Padre Flávio destaca que Claraíba passou por várias fases até tornar-se o distrito atual. Inicialmente agrícola, a região se transformou com a instalação de empresas dos setores têxtil, madeireiro, moveleiro e tinturarias, tornando-se uma área com forte presença industrial. O nome “Claraíba”, adotado oficialmente em 1943 por decisão do governo de Getúlio Vargas, é uma referência a uma árvore da família da canela.
Hoje, o distrito é um ponto de convergência regional, cortado por rodovias que ligam Brusque, São João Batista e Nova Trento. “É uma região que cresceu, se industrializou, mas que não pode esquecer suas origens. Esse livro é uma tentativa de preservar essa memória para as novas gerações”, ressalta o autor.
Um projeto de fé, história e comunidade
Com apoio da comunidade, padre Flávio doou exemplares do livro ao CPC de Claraíba e celebrou uma missa especial no dia do lançamento. O evento reuniu fiéis, moradores e descendentes de imigrantes em uma celebração que uniu fé, cultura e história. Os exemplares são comercializados em prol da construção de um Memorial alusivo à Primeira Comunhão de Santa Paulina que, em breve, será inaugurado.
Além do conteúdo histórico, o livro é também uma homenagem às famílias pioneiras da imigração italiana e um convite ao reconhecimento das contribuições desses povos na construção das comunidades do Vale do Rio Tijucas.
O projeto integra uma série de publicações do padre Flávio Feler, que desde 2005 se dedica ao resgate da história das igrejas e das comunidades catarinenses, especialmente em Canelinha, Florianópolis e Nova Trento. Cada obra é fruto de extensa pesquisa, entrevistas, coleta de documentos e apoio das próprias comunidades.