O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) foi retirado à força da mesa diretora da Câmara dos Deputados, na tarde desta terça-feira (9), após ocupar a cadeira da presidência em protesto contra a possível cassação de seu mandato e a votação da PL da Dosimetria. (Confira vídeo abaixo).
A ação causou tumulto no plenário, interrupção da sessão, retirada da imprensa e suspensão da transmissão da TV Câmara. Glauber se recusou a sair do local e afirmou que permaneceria “até o limite das forças”.
“Eu vou me manter aqui firme até o final dessa história. Se o presidente da Câmara quiser tomar uma atitude diferente daquela que ele tomou com os golpistas que ocuparam essa mesa diretora e que até hoje não tiveram qualquer punição, essa é uma responsabilidade dele”, declarou.
Sessão estava em fase preliminar e TV foi tirada do ar
No momento da ocupação, os parlamentares estavam na fase do Pequeno Expediente, quando podem fazer discursos de até cinco minutos. A sessão poderia seguir com a análise da PL da Dosimetria e da cassação de Glauber Braga, acusado de agredir um manifestante do MBL em 2023.
A TV Câmara foi retirada do ar e os jornalistas foram expulsos do plenário por ordem da segurança legislativa.
Hugo Motta reage: “O extremismo não tem lado”
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reagiu ao episódio com uma postagem nas redes sociais. Ele criticou duramente a conduta de Glauber e disse que atitudes como essa “agridem o funcionamento das instituições”.
“O extremismo não tem lado porque, para o extremista, só existe um lado: o dele”, escreveu Motta.
Ele ainda afirmou que eventuais abusos contra a imprensa durante o tumulto serão apurados.
Glauber diz que só pediu “tratamento igual”
Após ser removido do local por policiais legislativos, Glauber Braga falou com a imprensa e criticou a condução do processo de cassação, que atribui a uma perseguição política liderada pelo ex-presidente Arthur Lira.
“A única coisa que eu pedi ao presidente da Câmara foi que ele tivesse 1% do tratamento para comigo que teve com aqueles que sequestraram a mesa diretora da Câmara por 48 horas”, afirmou, referindo-se à ocupação de bolsonaristas em 2023.
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, também tentou impedir a retirada e gravou parte da ação. Outros parlamentares registraram o momento com celulares.
O que é a PL da Dosimetria?
A PL da Dosimetria propõe que condenados pela Justiça, inclusive por crimes políticos ou eleitorais, possam ter a pena reduzida por critérios técnicos. O relator Paulinho da Força defende que o projeto busca “pacificar o país”, como uma espécie de meio-termo entre propostas radicais.
Apesar da urgência aprovada, o texto nunca foi votado devido à forte resistência. Para críticos, trata-se de um projeto voltado a beneficiar aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O relator nega e afirma que não fere decisões do STF.
Por que Glauber pode ser cassado?
Glauber Braga é alvo de um processo por quebra de decoro parlamentar, após ser acusado de agredir e expulsar Gabriel Costenaro, integrante do MBL, em abril de 2023. O incidente foi filmado e entregue ao Conselho de Ética da Câmara, que aprovou o processo de cassação a pedido do Partido Novo.
Costenaro participava de um ato de motoristas de aplicativo quando teria sido empurrado por Glauber. O deputado alegou ter reagido a provocações e, na sequência, se envolveu em discussão com Kim Kataguiri (União).
Para que o deputado seja cassado, são necessários os votos de 257 deputados (maioria absoluta). Se o número não for alcançado, o caso é arquivado.
Caso a cassação seja aprovada, a suplente da coligação seria a ex-senadora Heloísa Helena (Rede-RJ).
