O preço do café tem pesado no bolso dos brasileiros, com alta de 81,6% nos últimos 12 meses. Porém, no campo, as cotações começaram a cair após o início da colheita de 2025, oferecendo uma esperança de alívio para os consumidores a partir do segundo semestre deste ano. Embora os preços ainda estejam elevados, a expectativa é de que o repasse da queda no campo aos supermercados seja gradual.
Café continua pressionando a inflação
O café moído foi o segundo item que mais influenciou a inflação de junho, com um aumento de 2,86% em relação a maio, conforme dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), divulgado pelo IBGE. A alta no preço do café tem sido uma das maiores fontes de preocupação econômica, especialmente por ser um produto consumido por grande parte da população brasileira.

Queda no campo: o que aconteceu?
No campo, as cotações do café arábica, que é o mais consumido no Brasil, caíram 17% em junho, em comparação a fevereiro, quando atingiram um pico histórico. A colheita de café no Brasil, iniciada em março e que deve se estender até setembro, resultou em uma oferta maior, contribuindo para a redução dos preços no campo.
Para analistas, o preço do café para o consumidor ainda levará tempo para refletir essa queda nas cotações. O processo de repasse entre a colheita e o supermercado pode durar de 60 a 90 dias, com uma possível redução mais expressiva nos preços começando a se concretizar somente no segundo semestre deste ano.

O papel do café robusta
A queda nos preços está sendo impulsionada, em parte, pelo aumento na produção de café robusta, que deve crescer 28% em relação ao ciclo anterior. Essa variedade é cultivada principalmente no Espírito Santo e na Bahia, onde a irrigação tem permitido um bom desenvolvimento das plantações, sem grandes prejuízos causados por seca.
Por outro lado, a produção de café arábica, que sofreu com a seca e um ano de colheita naturalmente menor, apresenta queda estimada de 6,6% nesta safra. Esse desequilíbrio entre a oferta de robusta e arábica tem refletido nas flutuações nos preços do café no mercado.

Recorde de preços no início de 2025
No início de 2025, o preço do café arábica alcançou níveis recordes, com a cotação diária atingindo R$ 2.769,45, um valor nunca visto desde o início da série histórica do Cepea-Esalq, em 1996. O robusta também teve um aumento significativo, com o preço diário chegando a R$ 2.102,12. A escassez de café no mercado internacional, aliada ao aumento das exportações brasileiras e problemas na produção de outros países produtores, como o Vietnã, explicam esse pico de preços.
A guerra entre Israel e o Hamas e os ataques a navios no Mar Vermelho também afetaram a logística do mercado de café, pressionando ainda mais a oferta global. Além disso, a antecipação das exportações para evitar a aplicação de uma lei europeia que restringiria o comércio de café de áreas desmatadas também ajudou a elevar os preços no início do ano.

Expectativa de alívio gradual para o consumidor
Embora a expectativa seja de que o preço do café comece a cair nos próximos meses, os analistas alertam que esse processo será lento. O impacto das quedas no campo chegará ao consumidor, mas é projetado para acontecer de forma gradual. A grande mudança nos preços no supermercado pode vir apenas em 2026, quando a safra do Brasil deve alcançar um crescimento maior, trazendo alívio mais significativo ao bolso dos consumidores.