Em junho de 2025, Brusque celebrou os 150 anos da imigração italiana. Porém, mais do que reverenciar o passado, é importante destacar os impactos da colonização que ainda seguem presentes nos dias atuais, especialmente quando relacionados à arte e cultura. Nesta efervescência de cânticos, dialetos e tradições, a maestrina brusquense Louise Clemente Fuck, viveu um desafio ao assumir a regência do Grupo Di Canto Degli Amici Trentini, do Circolo Trentino di Brusque, em 2022. Sem falar italiano, ela segue na condução do grupo, fundado em 2001, que atualmente reúne 26 integrantes e interpreta canções folclóricas, tradicionais e religiosas.
Louise cresceu em um ambiente musical. Aos 11 anos iniciou aulas de teclado e piano, influenciada pelo pai, que sempre cultivou o gosto pela música. “Comecei motivada a tocar na igreja, participei de grupos de jovens, e aos 15 anos já dava aulas de piano. Dois anos depois comecei a ensinar canto, e nunca me envolvi com nenhuma atividade profissional que não fosse a música”, relembra.
Ao longo de sua trajetória, trabalhou em diferentes áreas: canto, piano e musicalização. Mas é na regência coral que a maestrina encontrou sua paixão. “Tenho um carinho enorme pela regência, é algo que faço de coração. Em Brusque, trabalho com vários corais e cada grupo é único”, afirma.
Desafio e aprendizado em italiano
O convite para assumir o coral do Circolo Trentino surgiu logo após a pandemia. No início, Louise não pôde aceitar por estar em licença-maternidade, mas em fevereiro de 2022 iniciou o trabalho. Entre os primeiros desafios, ela destaca a adaptação ao idioma italiano.
“Não falo italiano fluentemente, mas faço aulas e aprendi muito com o próprio grupo. Reger em outro idioma é sempre desafiador, ainda mais porque boa parte dos integrantes também não fala italiano. Por isso, o trabalho não é apenas musical: primeiro lemos o texto, traduzimos, entendemos o significado. Mais importante do que cantar afinado é compreender o que se está cantando, para então interpretar bem”, explica.
Segundo a maestrina, a cada ensaio surgem questões não só musicais, mas também linguísticas e culturais, como as diferenças entre os dialetos italianos. “Alguns conhecem mais o italiano trentino, outros mais o italiano clássico, então vão surgindo dúvidas no decorrer do ensaio que não são só musicais. É desafiador, mas ao mesmo tempo é muito bom, porque estamos sempre aprendendo juntos”, afirma. “Trabalhamos muito a pronúncia, as consoantes duplas, detalhes que não existem no português”, complementa.
Crescimento cultural
Para Louise, a regência do coral tem sido também uma experiência de crescimento cultural. “Aprendi muito sobre a cultura italiana e tenho visto a alegria e o entusiasmo que ela carrega. Isso contagia o grupo e nos envolve nesse clima de pertencimento”, ressalta.
Entre os momentos mais marcantes vividos com o Grupo Di Canto Degli Amici Trentini, a maestrina destaca os encontros da Liga Cultural e Recreativa do Vale do Itajaí, da qual o grupo faz parte. “É um ambiente especial, porque cantamos para amantes da música coral, mas também temos confraternização e troca entre os grupos. A música realmente funciona como ponte: já participamos de apresentações em que um coral cantava em alemão, outro em polonês, outro em português, e nós em italiano. Cada um traz seu idioma, seu figurino, e isso fortalece a troca cultural”, afirma.
Convite à comunidade
Os ensaios do Grupo Di Canto Degli Amici Trentini acontecem todas às segundas-feiras, às 19h, no Instituto Crespi, no Plaza Rivel. Interessados em participar podem entrar em contato pelo Instagram @circolotrentinobq ou pelo WhatsApp (47) 99953-6447.
Esta ação cultural é executada pelo Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultura – FCC com recursos do Governo Federal e da Política Nacional Aldir Blanc, por meio da Fundação Catarinense de Cultura.