Há quase dois anos a Escola de Costura da Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque e Região (AmpeBr) é parceira da Prefeitura de Brusque, através da Secretaria de Saúde, no projeto Luvas que Libertam. A iniciativa beneficia pacientes do Serviço de Assistência Domiciliar (SAD), que possuem algum tipo de sonda de alimentação. Com as luvas de contenção, aumenta a qualidade de vida, se humanizam mais os cuidados e há uma redução no encaminhamento à emergência dos hospitais para recolocação da sonda. Além disso, se previnem sintomas de estresse e ansiedade.
“É um projeto muito importante e a AmpeBr se orgulha de ser parceira da Prefeitura de Brusque. Há quase dois anos, a secretária de Saúde nos procurou e perguntou se, por meio da Escola de Costura, poderíamos produzir luvas para os pacientes do SAD. Eles tinham o material, porém não quem as costurasse. E assim iniciou essa bonita trajetória. Nos alegramos em contribuir e fazer com que esses pacientes recebam gratuitamente as luvas que auxiliam em seu tratamento”, destaca o presidente da AmpeBr, Mauro Schoening.
A produção
As responsáveis pela produção são a professora da Escola de Costura da AmpeBr, Maria Isabel Daroceski; e sua auxiliar, Railma Ferreira. Semanalmente a secretaria de Saúde recebe cerca de 20 pares de luvas.
“Aceitamos produzir pois nos alegramos em ajudar o próximo com nosso trabalho. Para confecção são necessários quatro processos. Primeiramente, talho o modelo; e a Railma, minha auxiliar, costura na máquina de overlock as duas partes, onde é colocado o enchimento e um terceiro tecido, que é uma telinha. Em seguida, preenchemos com fibra, deixando a luva bem fofinha. Depois, faço os acabamentos na máquina reta. E toda sexta-feira um responsável vem coletar”, explicou Isabel.
Para ela, exercitar o voluntariado é exercer a gratidão.
“Saber que meu trabalho se transforma em algo que irá ajudar outras pessoas é muito gratificante, é algo que não tem preço. Nós fazemos tudo com muito carinho e confeccionamos as luvas em nossas horas vagas aqui na Escola de Costura. Temos turmas nos três turnos do dia, mas sempre damos um jeito de tirar esse tempinho. Recentemente, recebemos uma homenagem de reconhecimento da Prefeitura por essa parceria”.
O projeto
O Luvas que Libertam nasceu através do Serviço de Assistência Domiciliar (SAD), que observou, ao longo de atendimentos de pacientes acamados ou domiciliados com o uso de sonda nasoenteral ou gástrica, a necessidade de serem contidos em suas camas ou cadeiras de rodas. E desta forma, haviam prejuízos biopsicossociais, como a intensificação de sintomas de ansiedade, o surgimento de lesões por pressão, em momentos em que o paciente arrancava a sonda, bem como situações de agressão física ao cuidador ou a equipe, devido à condição neurológica, que impactam a relação.
“Tendo em vista este cenário, discutimos o tema em uma reunião da equipe e foi então que a nossa fonoaudióloga apresentou um modelo de luva de contenção, que havia visto em um acompanhamento. Como a aquisição da luva era de alto custo para a maioria das famílias atendidas, levantou-se a ideia do próprio serviço confeccionar essa peça. Sabemos que possibilitar meios para amenizar o sofrimento e oferecer conforto aos pacientes, auxiliam a melhorar a qualidade de vida dos mesmos e da rede de apoio”, contou a nutricionista do SAD, Vanessa Iansen Cezar.
A fonoaudióloga do SAD, Kellyn Pedroso, explica que a Secretaria buscou parcerias com empresas têxteis da cidade para fornecer o material e, no início, uma agente de saúde aposentada se voluntariou para costurar as luvas. Porém, com a alta demanda, o serviço precisou de uma produção maior, foi então que surgiu a parceria com a Escola de Costura da AmpeBr.
“O SAD possui uma alta demanda e uma rotatividade considerável de pacientes. Já o processo de produção é um pouco complexo e não conseguíamos suprir a demanda. Foi quando procuramos a Escola de Costura da AmpeBr, que aceitou o desafio. Hoje, dos pacientes com sonda cadastrados no município, 100% receberam as luvas. E temos alguns pares no nosso estoque para novos usuários”, pontuou Kellyn.
Ela comenta que a entrega é realizada em visita ao paciente no hospital e ou no primeiro contato em domicílio. A equipe SAD oferece orientações acerca do uso. “O material permite higienização. Além disso, as luvas não precisam ser devolvidas”.
A nutricionista do SAD, Elisa Lyra, frisa que os resultados são positivos. “A equipe percebeu que, com o uso das luvas de contenção, houve a diminuição nos encaminhamentos, via ambulância, para emergência hospitalar, bem como um melhor aproveitamento da frota de veículos de emergência do município; diminuição nos chamados para o SAMU sobre de retirada de sondas; melhora nas incidências de lesões por pressão e pele; melhora do vínculo entre equipe e rede de apoio, em medidas do conforto com o paciente, satisfação e segurança do familiar”.
As profissionais agradecem pela parceria. “Nosso muito obrigada a AmpeBr e as meninas da Escola de Costura por toparem confeccionar as luvas e fazerem isso com tanto carinho e dedicação. Sem elas, o projeto não teria dado tão certo e beneficiado tantos pacientes, trazendo para eles uma melhor qualidade de vida”.
Saiba mais
O Luvas que Libertam foi apresentado no 9º Congresso de Secretarias Municipais de Saúde de Santa Catarina,que aconteceu em Blumenau. O projeto foi um dos 43 selecionados para representar o estado no XXXVIII Congresso do Conasems, o maior evento de saúde pública do Brasil, que ocorrerá em Belo Horizonte, no mês de junho.